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Merda antiga: A propósito do mar de lama que assola o país

Merda antiga

A propósito do mar de lama (ou de merda) que assola o país, veio-me a ideia de que pouco ou nada mudou desde a transmigração da realeza lusitana para o nosso rincão (1808); melhor posto, uma fuga de rabo entre as pernas a medo dos franceses… Mas, antes mesmo desses novos tempos del-Rei, a merda dos fidalgos que por aqui nos espoliavam era lançada por escravos na baía de Guanabara ou em outras águas interioranas. O resto da merda, a do povo, jogava-se em qualquer lugar, e a cidade exalava miasmas insuportáveis. Acrescido a isto, havia as apavorantes hordas de salteadores, as badernas da plebe e demais problemas de roubalheira a partir do “tesouro dois” a servir aos apaniguados do mui heroico Príncipe Regente, Sua Alteza Real Dom João VI, “o Clemente”, corníssimo sabido, comedor de coxinhas de galinha e avesso a banho. Para suprir tantas novidades onerosas, Sua Alteza, em data natalícia (13 de maio de 1809), inaugurou onze bicas no Campo de Sant’Ana e aproveitou para implantar numerosos tributos, além de criar a “Guarda Real”, que hoje se representa galhardamente pela PMERJ, ou pela PMDF, ou pela extinta PMEG. Enfim, criada para servir ao poder reinante reprimindo a pranchadas e métodos afins as chiadeiras e acolhendo as críticas merecedoras de outros endereçamentos…

Bem, talvez haja diferença entre o miasma de outrora e o de agora… Mas as cobranças à polícia já exalavam do boquirroto dos fidalgos – parasitos da realeza – como se saídas de seus fiofós; enquanto isso, as gentes miseráveis submetiam-se à inelutável fedentina, demais de pisotear a merda lançada das janelas ou depositada no chão por elas mesmas: essas gentes miseráveis, na falta de outros lugares servíveis ao descarrego de suas alças intestinais. Porém, muita vez a brisa marinha devolvia o mau-cheiro aos empinados narizes dos que mandavam nadar seus dejetos, até que os escravos e fâmulos fechassem as janelas dos palácios e abanassem para outra direção os ares malcheirosos.

Ora, de lá para cá – afora as “instalações de saneamento” (geradoras de propinas) – nada mudou!… Tanto ou mais que ontem, os “reinóis hodiernos” despejam suas flatulências contra a polícia por meio do barulhento bumbo da mídia. Deste modo, quem paga o pato são os policiais, que nem desafinados tamborins têm para repicar em contraponto; ficam como os únicos a cheirar mal… Sim, pois falam por aí, alguns “honestíssimos”, que existe uma “banda podre” na polícia. Sim, existe, e fede bastante, porém esta, como o fazia a plebe de antanho, deposita a sua merda nos caminhos e logradouros visíveis, porque a ela nunca foi dado o direito de lançá-la, em tonéis levados por escravos, nas águas da baía.

A pouca merda produzida pela polícia é vista e sentida, sim, e o tempo todo. Já a valiosa merda oriunda de caviar é expelida em surdina pelos aristocratas descendentes daqueles afortunados fidalgos. Esta valiosa merda, porém, não mais se joga na lâmina d’água: desce cano abaixo e culmina escoando em línguas negras a avançarem subterrânea e sub-repticiamente ao mar. E ninguém sabe quem a produziu, sendo certo que todos os aristocratas defecam… Ora, ora… é muita merda valiosa a ficar debaixo do tapete dos que criticam veementemente a polícia, porque lhes interessa que a barata corrupção policial oculte a outra, bem mais onerosa aos cofres públicos e ao povoléu, rateada nos ambientes de luxo.

Engraçado é que falam em corrupção policial como se esta, real e indiscutível, fosse única neste país que vem de há muito exalando miasmas desconhecidos (Que o diga a Lava Jato!). Mas só na polícia parece haver merda malcheirosa, e, então, chicote nela!… Nos tempos del-Rei – hein, ó que saudade! – pelo menos um policial fazia e desfazia e ninguém falava nada contra. Era ele o major Vidigal, senhor da verdade e da vida, protegido del-Rei. Ninguém, da plebe ou da alta linhagem, se atrevia a contrariar-lhe os modos. Bons tempos, hein? Ora, pois, pois!……

Bem, querem saber o que realmente preocupa? É que o povoléu de hoje, – mui ampliado na miserabilidade favelada, e que a tudo assiste na tevê em portas de lojas, ou em leituras furtivas de jornais dependurados nas bancas, ou ouvindo rádios alheios, – acabe crendo que todos os desonestos da sociedade estão na polícia. Porque isto tem sido bom para os donos do dinheiro, do poder, da verdade e da doutinice, esses que vivem de criticar a polícia até que esta um dia se una e resolva dar-lhes um basta. Como?… Ora, sei lá como!… Mas sei que são esses sacripantas os costumeiros em denunciar as flatulências pauperizadas dos intestinos policiais vazios, enquanto soltam seus miasmas de caviar, sem alarde, como se foram “ventinhos”. Mas são esses “ventinhos” os que mais fedem e poluem o ar corrupto do país!… Quem irá dizer que não?

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