top of page
Editor

O absurdo número de PMs e policiais civis vitimados pelo banditismo

“A ORDEM PÚBLICA PERIGA ONDE NÃO SE CASTIGA”

(Marquês de Maricá)

O absurdo número de PMs e policiais civis vitimados na desproporcional contenda que hoje se trava contra o banditismo faz-me lembrar o aforismo do título e algumas histórias passadas.

Em 23 de novembro de 1989, quando meus comandados do 9º BPM apreenderam na favela de Acari o primeiro fuzil AR-15 em mãos de traficantes, eu declarei que em condições normais não havia como enfrentar tão estupendo poderio bélico. Na época, a mídia noticiou, por conta da malícia de alguns repórteres, que eu estava “jogando a toalha”, muito embora o meu modo de agir provasse o contrário.

Tudo bem, mas o que eu efetivamente tentei projetar, em visão prospectiva, é o que se vê hoje, ou seja, centenas de policiais civis e militares feridos ou mortos por armas que não lhes dão nenhuma chance de sobrevivência. Somente os balaços nos membros superiores ou inferiores permitem aos médicos alguma providência, mas que, geralmente, se reduz ao ato cirúrgico de cortar e jogar fora o membro dilacerado. De resto, os médico se rendem à morte do seu paciente.

Dou luz ao assunto para reafirmar o que deixei no ar, em 1989, para reflexão das pessoas. Todavia, constato com tristeza que os policiais de hoje não enfrentam um banditismo comum, mas, sim, uma inegável guerrilha urbana organizada, treinada e, sobretudo, melhor armada. Isto, porém, não é o pior…

Não é o pior porque coragem para enfrentar esses miseráveis os policiais civis e militares têm.  O que lhes falta é apoio legal, e este depende de decisão política. As autoridades públicas devem admitir que hoje a polícia está a enfrentar, em algumas cidades brasileiras, mormente no Rio de Janeiro e em São Paulo, a guerrilha urbana. Há, de um lado, quadrilhas formadas por centenas de facínoras fortemente armados e que não se assustam com lei alguma; e, do outro, atônitos policiais tendo de enfrentá-los nos limites de uma lei que lhes vêm em desfavor com maior perigo que os tiros dos facínoras.

Tal situação, maximamente aflitiva, lembra o alerta do saudoso jurista, historiador, político e insigne membro da ABL, Afonso Arinos de Melo Franco, talvez o primeiro a externar uma clara opinião a respeito do banditismo urbano que assola o Rio de Janeiro. Disse, em outras palavras, que o banditismo no Rio poderia ser classificado como “guerrilha urbana sem ideologia”; acrescento: com a ideologia da impunidade e do lucro fácil.

Concordando com o ilustre jurista, – e faço-o para que não me venham dizer que opino em idiossincrasia, – a polícia enfrenta na prática um banditismo sem temor da morte nem de punição por matar indefesos cidadãos e, principalmente, por eliminar quem deveria temer: os policiais.

Em contrário, os facínoras nem mesmo esperam ser admoestados; saem à caça de policiais confiando no anonimato e na superioridade numérica e bélica. Deste modo, surpreendem e matam policiais quase que diariamente. Aliás, nem quando esses facínoras morrem é possível às vezes identificá-los. É apenas um corpo a ser jogado em cova rasa. Já o policial, além de identificado, sofre todas as conseqüências da lei e do clamor prosélito de muitos que curtem o modismo de uma falsa democracia a criticar a polícia e a justificar o “heroísmo” dos atuais guerrilheiros urbanos. Será que eles são mesmo desprovidos de ideologia?… Ora, tendo ou não ideologia, são guerrilheiros urbanos em suas táticas e fim de conversa!

Ora bem, que fazer?… Como policial-militar (vai com hífen porque é vocábulo composto por dois substantivos exatamente para designar nossa ambígua profissão), eu diria que é hora de agir em igualdade de condições contra os guerrilheiros urbanos, ou seja, num quadro de exceção legal, que, todavia, depende de decisão política. Ou, então, que todos os policiais civis e militares cruzem os braços, não apenas pelo direito que têm à vida, mas, principalmente, pelo direito que têm suas famílias de não chorarem com tanta freqüência a morte de seus entes queridos. Pois, se policiais são facilmente mortos e feridos, – e em absurda frequência, – o que se pode dizer dos perigos que ameaçam os cidadãos comuns?… Eis uma boa hora de lembrar Mahatma Gandhi, inegável pacifista:

“Onde não houver escolha entre a covardia e a violência, aconselharei a violência.”

Comentários


bottom of page